‘Certas amizades tem que deixar pra trás’, diz Rômulo Costa sobre a tragédia do MC Kevin

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3 Comentários

  • Satan !!!
    "Fãs no Mundo Todo"... Que mentira...
  • Renato Pimentel Ferreira
    Independente de gostar do gênero funk, penso como o Rômulo Costa. Amizades influenciam em atos corriqueiros do dia a dia. Qd vc anda com uma pessoa, vc passa a falar e agir como ela. Escolher com quem se relacionar pode parecer frio mas é inteligente.
  • Rtrtreterry Gfhhtg
    Este é outro que não vale o que o gato enterra.......

‘Certas amizades tem que deixar pra trás’, diz Rômulo Costa sobre a tragédia do MC Kevin

Por: João Arruda em

No último domingo o Brasi inteiro ficou chocado quando surgiram as notícias da tragédia que vitimou o MC Kevin, de apenas 23 anos. O artista, no auge da carreira, morreu após despencar do quinto andar de um hotel na Barra da Tijuca, numa história cercada de versões sobre drogas, orgia e muito, muito álcool. Dono da Furacão 2000, pai de um DJ que começou a carreira ainda criança e com longa estrada no mundo funk, o empresário Rômulo Costa bateu um Papo Reto sobre as armadilhas do sucesso, a falta de estrutura dos artistas e o deslumbramento que muitas vezes não acaba bem.

O que deu errado no caso do MC Kevin?

Eu vim da comunidade, da favela. E meus pais me ensinaram uma coisa. Você tem que andar com gente melhor do que você, não com gente pior. Tem que se espelhar em bons exemplos. Os MCs de comunidade sempre são trazidos por alguém que tem um conhecimento. O cara diz: Eu vou te levar lá, mas vou ser seu empresário. Aí, a coisa começa a não dar certo. Você tenta organizar a vida dele e não consegue. E você vê esse garoto com uma carreira brilhante.

Você acha que faltou apoio para ele?

O cara vem da comunidade (para o escritório) e nunca vem sozinho. Tem sempre um pai, um irmão, um amigo, querendo participar. E começa a dar m. Porque as pessoas não conseguem controlar o irmão, o filho, e acaba acontecendo. Ele era muito jovem. Em pleno sucesso. O sucesso chegou muito rápido. A própria mulher dele falou das más companhias. Mas essas companhias vieram de onde? Eram companhias que ele conheceu.

E isso complicou tudo...

Você tem artistas que a carreira vai pra frente, porque os empresários conduzem a carreira artística. Mas é complicado você falar da vida de uma pessoa que não teve estrutura artística para tocar a carreira. Você lembra do Catra? O Catra era ele mesmo que conduzia a carreira dele, vendia os shows. Deu no que deu. Não largou nada, não investiu em nada, 32 filhos. Eu tinha lá Os Havaianos. Eu cuidava da carreira artística deles, mas tinha um irmão que tinha que assinar. Eu perguntava: Mas esse irmão faz o quê? Ele canta? Ele dança? E aí, com o tempo, eles pagavam uma porcentagem de 40% pelo empresariamento. Aí o irmão vai e fala: Pra que pagar esses 40% se a gente pode ficar com o dinheiro todo? Eu tinha o Bobby Rum que eu era empresário dele, e pagava um motorista pra pegar ele, levar no show, trazer de volta, recolher o cachê. Eu pagava, vamos dizer, cem reais. E o Bobby trabalhava como segurança. E querendo sair do emprego pra seguir a carreira artística. Eu aconselhei a não. Acabou saindo do emprego. Daqui a pouco, veio dizendo que não queria mais seguir a carreira artística, isso antes de acabar o contrato. Esse motorista disse pra ele: Em vez de eu receber 100, você me paga 200 e não precisa pagar os 40% pra Furacão 2000.

É fundamental ser gerenciado por um escritório?

Eles tocam a carreira deles. A Anitta toca a carreira dela mesmo. Eu fui empresário dela, a Kamilla (Fialho) foi empresária dela. E aí ela ficou sozinha. A carreira está seguindo. Comprou mansão nos Estados Unidos. E foi embora. É um caso. Mas é importante você ter um escritório pra tocar sua carreira artística. Participar de programas de televisão, rádio. Porque o funk, infelizmente, sofre um preconceito muito grande. Você vê que só no último dia do enterro do garoto, que era o funkeiro Kevin, ele virou o cantor Kevin. A Anitta, antes de ser Anitta, era MC Anitta. Mas, infelizmente ou felizmente, com o advento da internet, qualquer pessoa vira artista, vira sucesso, viraliza. Os escritórios artísticos hoje sumiram. Não tem mais. Os artistas vêm da comunidade sem estrutura nenhuma.

E muita gente se aproveita do sucesso do cara...

Você vê que o cara (Kevin) pra fazer o show tinha com ele dez pessoas. Mas é só ele que canta! Tudo bem que tem que ter o pessoal de mídia, os seguranças, o rider (para cuidar dos detalhes técnicos do show). Mas aí o lance é você sai do hotel, vai ao clube, entra no camarim, faz seu show e vai embora. Mas ele não. Era com a trupe dele todinha. Todo mundo. Como é que você controla isso? O artista chega lá no camarim dele, é uma garrafa de uísque, uma garrafa de vodca, 24 latas de cerveja. Pô, ele é um sozinho. Aí, o cara numa noite faz três, quatro, cinco shows. Apresentações de 40 minutos. Se ele pegar tudo e for botando dentro do carro, tem um belo estoque de bebida pra levar pra casa. Antigamente, você contratava um artista mais 12 músicos, técnico de som, iluminação. Hoje é cara sozinho. Pega o microfone e começa a cantar. Se não quiser levar o DJ, leva a base e entrega pro DJ da casa. No caso dele, se ele tivesse feito a coisa profissionalmente... Fez o show, acaba o show, hora de ir pra casa. Vai ficar na rua fazendo o quê? Correndo atrás de problema?

Seu filho me contou um dia que você era bastante rígido com a carreira dele.

Eu lembro que meu filho (Jonathan Costa, agora DJ Jon Jon) quando fazia os shows dele de DJ, eu falava: Olha, acabou o show, vem pra casa. Nada de passar em MC Donalds 24 horas, que ali tem problema. Tem pessoas que têm inveja, então vê uma pessoa fazendo sucesso. Não pode o sucesso subir à cabeça. Infelizmente, ele (Kevin) foi um garoto de comunidade, você vê que a comunidade toda abraçou, nos últimos momentos. Hoje no Brasil temos vários segmentos musicais. Tem Os Barões da Pisadinha, o trap, o funk carioca. Tem espaço pra todos. Mas tem que agir profissionalmente. Mas fica difícil, o próprio padrasto chegou a falar com ele para desacelerar um pouco. Não dá. 24 horas com os amigos.

Essa galera na aba prejudica muito?

Prejudica totalmente. Dá pra conviver, mas tem que hora que tem se afastar. Amigo pra hora do bebum, pra farra, é complicado. Tanta gente querendo fazer sucesso. Você tem que se profissionalizar. Tem que entender que a música, o sucesso, uma hora acaba. Uma hora tem que ter uma renovação. Ele tinha um contrato artístico, rescindiu, saiu brigado. Antes ele tinha alguém que cuidava da carreira. Se a pessoa não tiver cabeça, vai embora. É mal influenciado.

Que conselho você daria para os pais de artistas que estão começando e de reprente se deparam com um sucesso estrondoso?

Eles têm que cuidar da carreira dos filhos até um certo tempo. Por exemplo, você vê a Angélica (apresentadora). Quem cuidava da carreira dela era a família. Chegou uma hora em que ela teve que andar sozinha. Cuidar da própria carreira dela. Os pais muitas vezes não querem fechar com o escritório. Pessoas que não tinham nada, de repente o filho aparece com um carro zero. Mas de onde veio esse dinheiro? Mas tem que ter controle, tem que ver direitinho. Porque se ele era do crime e largou o crime (o próprio Kevin revelou que foi traficante antes de ser artista), foi porque veio uma outra carreira. Ele optou por ser artista. Então o passado, certas amizades, tem que largar. Ir pra frente. O mundo dele mudou. Tinha fãs no mundo todo.